A democrática ditadura do pistoleiro yankee
A Assembleia-Geral das Nações Unidas exortou na 3ª fª passada, por esmagadora maioria, os EUA a levantarem o embargo económico que mantêm há 45 anos contra Cuba. O órgão plenário da ONU, com 192 Estados membros, adoptou uma resolução neste sentido, pela 16ª vez desde 1992, após um debate que já se tornou ritual.
O texto, adoptado por 184 votos contra quatro, com uma abstenção, intitula-se “Necessidade de levantar o bloqueio económico, comercial e financeiro imposto a Cuba pelos Estados Unidos da América”, exorta “mais uma vez todos os Estados a absterem-se de promulgar ou aplicar” o embargo e aos que o aplicam a deixar de o fazer, “em conformidade com as obrigações que lhes impõem a Carta (das Nações Unidas) e o direito internacional que, nomeadamente, consagram a liberdade de comércio e de navegação”.
Como em 2006, os quatro votos contra foram dos EUA, Israel, Palau e ilhas Marshall. A Micronésia absteve-se. O embargo económico contra Cuba foi ditatorialmente imposto pelos EUA em 1962, após o malogro da invasão da ilha para tentar depor o regime de Fidel Castro - o episódio da Baía dos Porcos. Foi depois reforçado por várias vezes, nomeadamente, pela lei Helms-Burton de 1966 e com restrições às viagens de cidadãos norte-americanos a Cuba.
As resoluções da Assembleia-geral não têm um efeito vinculativo, mas reflectem com toda a clareza a justa opinião internacional. O embargo norte-americano contra Cuba é condenado por uma maioria cada vez mais alargada de Estados. Quando a primeira resolução foi apresentada, em 1992, obteve apenas 59 votos a favor. Conseguiu depois 179 votos em 2004 e 183 em 2006.
A votação realizou-se seis dias após um discurso do presidente norte-americano ter afirmado a vontade de manter o embargo até haver uma ‘mudança’ de regime na ilha, provisoriamente dirigida por Raul Castro desde a hospitalização do seu irmão Fidel, em Julho de 2006.
Na tribuna da Assembleia, o ministro dos Negócios Estrangeiros cubano, Felipe Perez Roque, não respondeu directamente a Bush, evocando apenas “as ameaças dos últimos dias” e precisando que “Cuba não capitulará”. O ministro cubano calculou em “pelo menos 222 mil milhões de dólares” o impacto económico do “brutal” embargo contra a ilha, desde que foi imposto, em 1962.
As novas sanções norte-americanas a Cuba interferem nas relações do País com pelo menos 30 países, violando a própria lei internacional. Na prática, tanto priva crianças cubanas de terem acesso a medicamentos, como impede os escritores cubanos de participarem numa feira do livro em Porto Rico. É a lei do ‘cowboy’.
Ver Lusa 2007-10-31