Periferias periféricas
Apresentando-se como um homem que ninguém controla, o Procurador-geral da República diz que a impunidade nas escolas tem de acabar, que a violência sobre os idosos é a que mais o preocupa, que é preciso agir nos bairros periféricos para não acontecer o mesmo que em Paris.
Qual é a criminalidade que mais o preocupa hoje?
O mais preocupante nas grandes cidades vai ser a criminalidade violenta e grupal e a delinquência juvenil. Tenho muito receio dos bairros periféricos de Lisboa. Ou se começa já a tomar medidas ou ainda acontece o que aconteceu em Paris.
Vou fazer uma directiva aos magistrados para darem prioridade aos inquéritos relativos a agressões a médicos e pessoal hospitalar, por um lado, e, por outro, a professores e demais funcionários das escolas. A sensação de impunidade nestas situações tem de acabar. Um miúdo de 15 ou 16 anos que exerce violência sobre o colega ou o professor, e que a directora, porque tem medo, não participa às autoridades, é uma situação tremenda.
Cria-se um sentimento de impunidade e o miúdo pensa que é ‘o maior’. Depois contagia outro colega, que também quer ser ‘chefe’ e faz igual. Finalmente, gera-se uma desconfiança no Estado, pois os pais interrogam-se: ‘Então, até na escola?’ Isto parece uma coisa pequenina, mas é muito importante (…) 1
Contudo, nesta perspectiva de carácter social, talvez não fosse nada despiciente começar por se determinar porque cada vez mais as ‘periferias’ se tornam - também economicamente - periféricas, e como inverter esta progressiva tendência. Classificar freguesias de padecerem da ‘doença do periferismo’ serve normalmente de desculpa para se imobilizar na expectativa de intervenções alheias, abstraindo-se de acudir com soluções inadiáveis 2.
1. Ler entrevista a Pinto Monteiro IN http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=61970