A virtude da mentira
A democracia vive hoje da mentira, sob as suas formas de ocultação, contradição, correcção e circunstância. A mentira é corrente. Ganhou novas feições. É por vezes obrigatória. Até sinal de esperteza. Há quem pense que a mentira é reservada às ditaduras. Sem imprensa livre, escrutínio parlamentar ou oposição legal.
Não aumentar os impostos é uma mentira clássica. Criar emprego é outra. Tal como aumentar as pensões e os abonos de família.
O PSD e o PS têm, a propósito dos referendos em geral e do referendo europeu em particular, uma longa folha de serviço de mentiras e negações. Já foram a favor e contra várias vezes. Quanto à U.E., o primeiro-ministro nem precisa de mentir: os seus ministros usam e abusam do novo hábito.
Não fazer o prometido, deixar de o fazer ou fazer outra coisa é uma forma de sublinhar a mentira original.
Será possível contrariar esta nefasta tendência para a mentira? Não há esperança nos deputados? Como estes se tratam sempre, uns aos outros, de mentirosos, já ninguém acredita. A mentira passou a virtude política.
Ler artigo de António Barreto na íntegra IN Público 2007-10-28, p. 45