Bairros (des)esperados
A CML encomendou um relatório de avaliação à gestão da empresa municipal Gebalis - Gestão dos Bairros Municipais de Lisboa, EM - referente ao período entre 2001 e 2006. O resultado, conhecido no final do mês passado, elevou a discórdia. As acusações que pendem sobre a Gebalis aparentam ser graves. A comissão de avaliação indicava crimes de natureza financeira por a empresa ter adjudicado obras sem concurso público, ter favorecido empresas e facturado com preços diferentes dos fixados nas propostas de adjudicação. O presidente da empresa municipal questionou a legalidade da avaliação e defendeu que deveria ter sido feita uma auditoria autorizada.
Mas as queixas dos moradores desses bairros viram-se noutro sentido. É que a Gebalis não faz obras. Alguns deixam mesmo de lado o envelope com o recibo da renda. Não é aberto, pois não tencionam pagá-lo como protesto.
No Lumiar, para os elementos da Comissão de Moradores da Rua Pedro de Queirós Pereira, cujas casas municipais são de construção muito anterior ao Programa Especial de Realojamento (PER), o “problema é que em quase quarenta anos nunca houve obras”. Quando os moradores puderam comprar as casas - a maior parte fê-lo - foi com a garantia de realização de obras de conservação. Já lá vão oito anos. Nada aconteceu até ao momento, com uma assinalável excepção: surgiram candeeiros nos passeios no dia a seguir ao protesto público, de Fevereiro, de quem ali reside 1.
Muitos vieram do interior do país para as barracas da Musgueira Norte. Durante décadas pagaram renda à CML e depois a empresas municipais - primeiro à EPUL, agora à Gebalis -, habituando-se a reparar eles próprios as mazelas das habitações, a pintá-las, a desentupir os canos e o mais que fosse preciso. E queixam-se: “como é que a Câmara exige aos senhorios particulares que façam obras de sete em sete anos e aqui... obras nem vê-las? Prometem, prometem mas nada acontece e, entretanto, fica tudo a cair”.
Donde se conclui não ser de agora a actuação displicente em matéria de conservação dos fogos municipais em Lisboa. São 28.611, dos quais 3800 dispersos, e 24.811 em bairros. Os números constam dum relatório do pelouro da Habitação Social da CML, onde se reconhece igualmente o estado de degradação do património municipal: 40 % dos edifícios onde se encontram fogos camarários em ruína ou em muito mau estado e os demais a necessitar de intervenção profunda. Nada que os moradores - quase 90 mil em Lisboa - não reclamassem há muito.
Qual a situação dos Bairros Municipais em Lisboa? São 69 com 87.110 habitantes.
Qual é o mais antigo? Presidente Carmona, Alto Pina, de 1927, com 38 habitantes.
Qual é o mais recente? Alta de Lisboa centro, Charneca do Lumiar e Lumiar, de 2007, com 6249 habitantes.
Qual é o mais populoso? Padre Cruz em Carnide, de 1959 e da década de 90, com 8793 habitantes.
Qual foi o 1.º após o 25 de Abril de 1974? O de 2 de Maio, na Ajuda, em 1975, com 1740 habitantes.
Qual é a freguesia com mais bairros? Marvila: Alfinetes, Armador, Condado Zona I, J e J antiga, Cooperativa Marquês de Abrantes, Flamenga, Lóios, Quinta das Salgadas, Quinta do Chalé. No total tem 24.122 habitantes.
Que bairros gere a Gebalis fora de Lisboa? Algueirão, Mem-Martins (Sintra), de 1994, com 286 habitantes. Casal de Cambra, Sintra, de 1994, com 95 habitantes. Zambujal, Alfragide (Amadora), de 1997, com 43 habitantes 2.
Para além da empresa continuar a ser auditada, quem ainda duvida da actual situação da Gebalis? De certeza que os moradores não. O momento actual é de enorme rebuliço na empresa. Mas das janelas dos bairros, encostados às paredes, a tremer de frio dentro de casa, ou na rua, com medo que um azulejo lhes caia em cima, os moradores continuam à espera. E esperam e esperam e (des)esperam…
1. Ver o URL http://cdulumiar.blogs.sapo.pt/16326.html
2. Ver “Os bairros esquecidos” CManhã 2007-03-25, IN www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=235712&idCanal=19