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CDU LUMIAR

Blogue conjunto do PCP e do PEV Lumiar. Participar é obrigatório! Vê também o sítio www.cdulumiar.no.sapo.pt

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Deslizamentos na Alta de Lisboa

Sobreda, 05.06.08

O empreendimento da Alta de Lisboa vai ser retomado ao fim de quatro anos de inoperacionalidade do seu mecanismo de gestão. A revelação foi feita antes de ontem pelo presidente da comissão executiva da Sociedade Gestora da Alta de Lisboa - SGAL (uma sociedade privada), para quem aquele projecto de urbanização de 300 hectares é “uma oportunidade para a cidade que não pode ser perdida”.

O relançamento do plano, da responsabilidade da SGAL e da CML, inclui a disponibilização de uma verba de cinco milhões de euros para fazer face a deficiências nos prédios já construídos, onde habitam cerca de 32 mil pessoas, menos de metade da população que se pretende atingir na próxima década (65 mil), afirmando a SGAL ter já uma equipa no terreno para se inteirar das reclamações.
A instalação de comércio e serviços estará já em marcha, garante o presidente da SGAL. “Ao longo do último ano foram sendo criadas condições para atrair investidores para o projecto. Se ainda não construímos o centro comercial (que se prevê venha a ter uma área equivalente à do C. C. Vasco da Gama, com escritórios e hotéis) é porque estes empreendimentos têm de ser desenvolvidos com os investidores”.
[Um centro comercial é prioridade para os moradores ou para alguma área de negócio?]
Quanto aos problemas dos arruamentos - há até um cruzamento com 18 faixas de rodagem - e falta de sinalética, a SGAL promete soluções a curto prazo. “São precisamente essas situações que agora pretendemos resolver uma a uma, dado que o mecanismo de gestão está novamente operacional”.
A SGAL e a CML dizem que apostam ainda na conclusão das principais vias de acesso - Avenida Santos e Castro, Eixo Central e Porta Sul -, que deverão estar prontas apenas durante os próximos três anos. “As obras nas duas primeiras estão a decorrer, e quanto à Porta Sul, estamos a analisar com a CML a melhor solução para assegurar a ligação entre a 2ª Circular e o Campo Grande”.
A SGAL diz perceber que os moradores se sintam defraudados com a demora pela conclusão do projecto, mas assaca [ou sacode?] responsabilidades às mutações da realidade social que acompanham um plano com um longo prazo de execução. “O projecto aprovado prevê mercados. Alguém acha que hoje em dia faz sentido pôr praças na Alta de Lisboa? Não, temos de optar por superfícies comerciais com outras características”.
[Será que perguntaram primeiro a opinião dos moradores, ou foram antes ‘aconselhados’ por algum investidor de última hora?]
“Há também deficiências no equipamento escolar: é preciso creches para fixar os casais jovens. O Ministério da Educação não aprova o que temos no plano, porque está desactualizado, e muito menos estas substituições, porque não constam dele. Ora, não nos é permitido instalar este equipamento sem que o plano seja redesenhado.
Quanto ao Colégio de São Tomás, a SGAL garante que ele não foi substituir nenhuma das escolas públicas previstas e que está fora do plano da Alta. “O colégio, ainda que desejável, é um equipamento negociado entre uma instituição privada e a CML e ao qual somos alheios”. [Para o colégio privado já não foi necessário redesenhar qualquer projecto]
Ainda sem solução definida, mas em discussão com a CML, está o centro cultural, que “será um equipamento implantado na Alta, mas pensado para a cidade”. “O arquitecto Siza Vieira poderá vir a desenhar o centro cultural, mas ainda não se avançou com um projecto porque é preciso primeiro definir um programa. Não vamos fazer algo a partir do abstracto”.
Outra das reclamações dos moradores, a melhoria da rede de transportes, está também nos planos da SGAL, ainda que não no imediato. Uma vez que o eixo central vai promover a ligação ao coração da cidade, é ao longo dessa via que idealiza que sejam instaladas estações de metro e interfaces de outros transportes públicos. “Mas não passam disso mesmo, de ideias não consolidadas”.
A SGAL pretende ainda aumentar a sua influência na Alta de Lisboa, encarregando-se da gestão de alguns equipamentos, até agora da responsabilidade da CML. “Vamos propor que possamos nós mesmos fazer a exploração de equipamentos que, caso contrário, simplesmente não são programados e não têm vida, como o Parque Oeste, que estará pronto ainda este ano”.
Apesar de tudo isto, para o responsável da SGAL, não é correcto falar-se em atrasos, antes em ‘deslizamentos’.
“Este plano de urbanização conseguiu aprovação em 1996 e foi desde logo pensado para 20 anos, por isso temos de estar abertos às vicissitudes e às desactualizações. Se as vias de acesso ainda não estão prontas [a inauguração estava prevista para o final de 2004] é porque extravasam a parceria com a CML e têm a ver com problemas com terceiros, seja pelas expropriações, seja no que respeita à tutela do território. A própria CML não tem tido a estabilidade necessária para ultimar soluções”, sublinhou.
Também o mecanismo de gestão, que junta a CML e a SGAL, esteve inactivo desde 2004, ou, para se usar a mesma terminologia, terá também ‘deslizado’. Para os moradores são ‘deslizes’ a mais.
 
Ler artigo de Catarina Prelhaz IN Público 2008-06-04