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CDU LUMIAR

Blogue conjunto do PCP e do PEV Lumiar. Participar é obrigatório! Vê também o sítio www.cdulumiar.no.sapo.pt

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Publicar ou não publicar eis a questão

Sobreda, 08.08.08
Sabe-se que as grandes agências de notícias internacionais determinam, em muito, as agendas e os conteúdos dos diferentes órgãos de comunicação social. Sabe-se que se vangloriam de que notícia por elas difundidas, é notícia editada em todos os países do mundo em menos de 24 horas.
Sabe-se que o que se silencia é, na maior parte das vezes, tão ou mais importante do que o que se publica. Sabe-se, mas ainda ficamos chocados com algumas realidades. Três exemplos escolhidos ao acaso.
Primeiro. A Festa da Alegria em Braga foi o maior acontecimento político-partidário do fim-de-semana de 19/20 de Julho. Nela participaram muitos milhares de pessoas, que estiveram lá e viram. É uma realidade indesmentível. Qualquer que seja o critério jornalístico. Goste-se ou não do PCP. Por mais que isso custe a quem não gosta.
Os media dominantes, elucidativamente, ignoraram esse acontecimento. Nas televisões nenhum dos canais mostrou uma imagem que fosse dos milhares de pessoas que participaram na Festa e assistiram ao comício com o secretário-geral do PCP. Do discurso de Jerónimo de Sousa nada disseram. E, no final, fizeram-lhe umas perguntas sobre questões que nada tinham a ver com a sua intervenção. Nos jornais idêntico “tratamento”. Nem uma linha. Apenas a imprensa regional cumpriu positivamente o seu dever de informar.
Seria de esperar uma (ou mais) excepção. Mas não. O que se passou? Não é crível que os directores em causa se tenham reunido à volta de uma mesa e decidido em conformidade. Algo de muito mais profundo se desenrola. Estamos claramente perante uma formatação de procedimentos para com quem não alinha no pensamento único. Formatação essa que vem de longe e se tem refinado ao longo dos anos. Basta, em relação a cada um dos órgãos referidos, comparar com o que nesses dias transmitiram e publicaram em relação a outras forças políticas.
Segundo exemplo. A Colômbia tem estado na ordem do dia. Seja por causa de Ingrid Betancourt, seja pela putativa presença – sempre anunciada e nunca confirmada – das FARC na Festa do Avante!.
Mas nem uma linha sobre a realidade vivida nesse país. Álvaro Uribe, enfrenta um procedimento de impugnação em tudo semelhante ao vivido por Collor de Mello há uns anos no Brasil. O Supremo Tribunal instaurou-lhe um processo por ter comprado os votos no Congresso que permitiram a sua reeleição. Cerca de 32 senadores (a maioria do partido de Uribe), num total de 102, estão presos e/ou acusados de ligações aos cartéis da droga, aos bandos paramilitares e à venda de votos que permitiu a reeleição de Uribe. A ex-parlamentar Ydis Medina confirmou perante o Tribunal estes factos. Nada disto é notícia merecedora de edição? Nos EUA sim (basta ver, por exemplo, a CBS).
Em Portugal não. Mais. Nem uma palavra, nem uma notícia, a informar que a Colômbia é campeã do mundo em assassinatos de sindicalistas e de jornalistas: mais de metade dos sindicalistas assassinados em todo o mundo. Trinta só este ano. Será porque na sua maioria são índios? Será por não terem aquele “charme discreto da burguesia” a que se referia Luís Buñuel? Porque sim para Ingrid Betancourt e porque não para Guillermo Rivera Fúquene? Porque sim para a publicação dos relatórios da Amnistia Internacional sobre a China e porque não para os sobre a Colômbia?
Terceiro exemplo. O PCP emitiu uma nota sobre a detenção da cidadã espanhola Remedios Garcia Albert. Face ao alarido em torno do PCP e das FARC, seria de esperar um qualquer tratamento jornalístico. Puro engano. Alguém me explica? Liberdade de imprensa ou não publicar eis a questão.
 
Ler António Vilarigues, especialista em sistemas de comunicação e informação, IN Público 2008-08-07, p. 37