Mais de um quarto dos utentes de 8 centros de saúde do distrito de Lisboa não têm médico de família, revelou ontem a União dos Sindicatos de Lisboa/CGTP-IN numa acção de sensibilização sob o lema “Saúde para todos”.
A União dos Sindicatos de Lisboa (USL) quis assinalar o Dia Nacional de Saúde, que se comemora hoje, com uma campanha de sensibilização para “a importância da existência de um Serviço Nacional de Saúde ao serviço das populações e não à mercê dos interesses do sector privado”.
“Hoje e amanhã vamos estar junto de hospitais, centros de saúde e unidades de saúde familiar a distribuir um documento que visa pôr a nu os grandes ataques que têm sido feitos pelos sucessivos governos ao Serviço Nacional de Saúde”, que comemora este ano 30 anos.
No documento que ontem estava a ser distribuído junto à Unidade de Saúde Familiar dos Lóios, a USL informa, citando dados da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT), que um quarto dos utentes dos centros de saúde de Algueirão, Queluz, Cacém, Pontinha, Ajuda, Azambuja, Alenquer e Póvoa de Santa Iria não têm médico de família, somando 128.090 utentes, de um total de 462.029.
Para o sindicato, a reforma nos cuidados de saúde está “longe do sucesso que se esperava devido à falta de recursos humanos”, pois “nos centros de saúde e nas extensões de onde saíram os médicos, enfermeiros e trabalhadores administrativos para as Unidades de Saúde Familiares muitos utentes ficaram sem médico de família e pior servidos em termos de oferta dos cuidados de saúde”.
Como exemplo, a USF dos Lóios, que entrou em funcionamento em Maio de 2008 com cinco médicos, ficou apenas com dois, que haviam saído do Centro de Saúde de Marvila e levado os seus utentes (cerca de 3.500). Para os outros três médicos que foram transferidos para esta Unidade apenas foram transferidos 1.500 utentes, quando deveriam ter sido transferidos 7.500, segundo o contrato programa celebrado com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
“A USF dos Lóios ficou com sete médicos, quatro enfermeiros e cinco trabalhadores administrativos para cerca de cinco mil utentes, enquanto no Centro de Saúde de Marvila ficaram, para cerca de 55 mil utentes (20 a 25 mil sem médico de família), 18 médicos, oito enfermeiros e cinco funcionários administrativos”, estando a ser criadas “situações de desigualdade” no acesso à saúde.
A sindicalista apontou ainda outras medidas que considerou “ataques” ao SNS e que “corrompem” a sua “universalidade, acessibilidade e gratuitidade”, como a introdução de taxas moderadoras.
A USL criticou ainda o problema das listas de espera, que se “mantém e nalguns casos se agravou”, citando o último relatório do Ministério da Saúde, que indica que a 31 de Dezembro de 2007 estavam em lista de espera para primeira consulta na região de Lisboa e Vale do Tejo 103.521 doentes, correspondendo a 21,8 por cento da lista de espera no país.
Por outro lado, acrescentou, “os cuidados continuados estão nas mãos das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e privados, mas já deram uma despesa ao Governo de 65 milhões de euros”. O mais grave é que “na região de Lisboa, não chega a haver uma cama por 1.000 habitantes com mais de 65 anos”.
Ver Lusa doc. nº 9525309, 06/04/2009 - 14:04